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A vida é muito mais*

Planos servem somente para coisas comuns, ordinárias. Planos nunca nos fazem transcender ou nos encontrar. Pois, para alcançarmos o extraordinário, o incomum, uma singular suficiência de paz, planos não bastam; sequer contribuirão. Ao contrário, é preciso apenas sentir e partir para irmos descobrindo como e quando ousar. E é ouvindo as vozes da intuição que simplesmente devemos começar a fazer.  O que basta mesmo é prosseguir na celebração dos acertos ao mesmo tempo em que aprendemos com os erros para corrigir a trajetória toda vez que as circunstâncias que nos desafiarem ou nos convidarem a desistir ou acomodar.  A vida é muito mais do que ir de um ponto A ao B; é muito mais do que a pretensão de traçar trajetórias e metodologias numa ilusão de poder perseguir e controlar passos e acontecimentos. Porque as coisas realmente especiais e transformadoras sempre são construídas em lugares e momentos muito mais ricos de incertezas do que se possa prever qualquer petulâ

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) à polêmica de Emerson contra a própria ideia de influência, à sua insistência de que caminhar sozinho deve implicar a recusa até de bons modelos, o que torna a leitura primordialmente uma atividade criadora" "Nenhum poeta, ou, melhor dizendo, nenhum poeta forte, pode escolher seu precursor, da mesma forma que nenhuma pessoa pode escolher seu pai" "Lembrando Emerson: 'Todo espírito constrói uma casa para si, e além desta casa um mundo, e além desta casa um mundo, e além deste mundo um céu" "Mas nenhum poeta pode escrever um poema sem, de certo modo, lembrar de outro poema, assim como ninguém ama sem lembrar, ainda que vagamente, de um amor anterior, ainda que fantasiado ou bloqueado por um tabu" "Para continuar sendo poeta, o poeta precisa se cercar da névoa ilusória que o protege da luz que outrora o aqueceu" "(...) o pensamento dialético deve tornar presente o que é ausente (...)

A poética do existir*

A gente não precisa de dizer o que fez e faz.  Cada vez mais viver é o que im-porta de verdade. Im-porta ser sempre aprendiz.  Im-porta o carinho amigo.  Im-porta o doar amor.  Im-porta as coisas simples. Im-porta o agora pleno de histórias.  Im-porta abrir a porta da existência  E viver as Autogenias transformadoras.  Im-portar com o outro que precisa de nossa escuta e presença.  Im-portar as estrelas do céu e Pintar os fios de ouro nas estradas do viver.  No portar-se como gente In-teira.  In-teirando-se com o fogo, o ar a terra e água. Inteirando-se com múltiplas pessoas  Dissolvendo-se na poética do existir. *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Juiz de Fora/MG

O poeta do agora*

O poeta americano Walt Whitman (1819-1892) foi o poeta do hoje. Nem o passado lamuriento dos saudosistas, nem o futuro idealizado dos visionários. Para Whitman, nada era melhor que o presente — e para fisgar o fogo do presente, ele julgava, era preciso escrever em estado de máxima liberdade. Liberdade que expressou em seus versos livres, sinuosos e intermináveis. Entre a herança fervorosa do romantismo e as aspirações do modernismo, Whitman fez de sua poesia uma encruzilhada. Um laboratório no qual a vida, com suas complicações e grandezas, foi o único objeto. Cento e cinqüenta anos depois de publicado, seu livro mais importante, “Folhas de relva”, de 1855, recebe, enfim, uma tradução digna (de Rodrigo Garcia Lopes) no Brasil. Como cidadão, Walt Whitman foi um libertário, que defendeu os direitos da mulher, o fim da escravatura e a prática do amor livre. Esta visão antidogmática da vida caracteriza também sua poesia. Enquanto ele viveu, “Folhas de relva” teve várias

Agora eu sou uma estrela*

Ipsum facto, estrela mesmo, das alturas do céu O céu da imensidão Da dimensão profusa do ser. Sim, eu fui pra longe E não foi somente pelo vinho, O ser encurnicado se foi O corpo ficou pesado  A mente disse adeus E a alma se pôs a flanar E planou na serra do Horizonte Perdido Sobrevoou as terras dos Araxás Foi mais longe, até os bares ébrios de Pirenópolis, Os mesmos que encontramos em Tiradentes Onde ouvimos jazz Na antessala dos casarios centenários. Sim, no fundo das pousadas havia jardins com gnomos Os anões faziam ciranda de pedra dura nas folhagens E nós, como sempre, fizemos a nossa ciranda nos copos Nos misturamos num só  E não nos encontramos mais sozinhos pela vida.   *Vânia Dantas Filósofa. Filósofa Clínica. Uberlândia/MG-Brasília/DF

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Para a tradição oriental a verdade é uma experiência pessoal. Portanto, em sentido estrito, é incomunicável" "O valor das palavras reside no sentido que ocultam. Ora, este sentido não é senão um esforço para alcançar algo que não pode ser alcançado realmente pelas palavras" "Todos os sistemas de comunicação vivem no mundo das referências e dos significados relativos" "(...) o sentido não só é o fundamento da linguagem como também de toda apreensão da realidade" "Toda revolução é a consagração de um sacrilégio, que se converte em um novo princípio sagrado" "Condenado a viver no subsolo da história, a solidão define o poeta moderno. Embora nenhum decreto o obrigue a deixar sua terra, é um desterrado" "A contradição do diálogo consiste em que cada um fala consigo mesmo ao falar com os outros; a do monólogo em que nunca sou eu, mas outro, o que escuta o que digo a mim mesmo" &q

O texto e a vida*

Em uma obra de essência inacabada, a pluralidade discursiva, nem sempre coerente e recheada com algum tipo de fundamentação, exibe capítulos de uma subjetividade em vias de acontecer.   Nessa arquitetura de palavras, a versão dos rascunhos se inicia na multidão improvável dos sentidos sem tradução. Por esse não-lugar se alternam pronuncias da voz na palavra escrita. Um apurado senso de irrealidade parece tomar conta da estrutura narrativa.  Ao (re)nascer de cada pessoa uma nova obra se inicia. As lógicas da incompletude ampliam as chances para descrever o infindável movimento da vida. Sua eficácia institui novos parágrafos existenciais e se oferece como possibilidade inadiável de reescritas.  A autoria, em sua singularidade, esboça um cotidiano de páginas inéditas. A letra parece querer anunciar, desvendar, transgredir cotidianos em roteiros de inconclusão. Uma estranha alquimia ressoa no desajuste das entrelinhas. Como uma literatura que se esboça aos sons do

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Ela é feita de ensaios-erros, marca, por excelência, da vitalidade, no que ela tem de aventureira. Indico no princípio deste livro: a verdadeira vida não tem projeto porque não tem objetivo definido. Daí o aspecto pulsante de suas manifestações" "Acrescentarei que o redobramento é a marca simbólica do plural. Por isso, cada um torna-se um outro. Comunga com o outro e com a alteridade em geral" "(,,,) nenhum problema é definitivamente resolvido, mas que encontramos, pontual e empiricamente, respostas aproximadas, pequenas verdades provisórias, postas em prática no cotidiano, sem que se acorde um estatuto universal, oralmente válido em todo lugar, em todo tempo e para cada um" "(...) o excesso sobrevém como uma vibração que legitima e dá sentido à monotonia cotidiana. A transgressão e a anomia necessitam de limites, ainda que seja somente para serem ultrapassadas" "Instantes encantados dos carnavais, dos festivais,

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