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Convite*

Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou mistério A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. *Lya Luft

De onde vem isto que é ?*

A gente acaba falando de uma coisa Para falar de uma outra bem diferente. O que é isto Que nos faz humanos E nos diferencia Dos outros animais? O que é isto Que nos torna sublimes E nos eleva na prática Do bem-querer e do amor? E o que é esta outra coisa Que nos joga e rebaixa Causando ao nosso redor Malevolência e desamor? Duas forças nos habitam: Eros e Thanatos Amor e Ódio Laços de Vida e de Morte Luzes e Sombras. Sabe aqueles círculos Que se formam ao redor De uma pedra que se joga N'água de um lago...?? O que é isto que dói Na gente, por vezes, E não precisaria doer? *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Filósofo Clínico Porto Alegre/RS

Retrato*

Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? *Cecília Meireles

Uma metafísica dos refúgios*

“Deram-me um corpo, só um! Para suportar calado, tantas almas desunidas, que esbarram umas nas outras.”                                                          Murilo Mendes Um íntimo estranhamento chega à superfície na forma de dizer desencontrado. O gesto inseguro, a voz trêmula, a lágrima bailarina, parecem traduzir a indefinição em curso dentro de si. Em nuanças de antigas vivências, a linguagem faz voltar o que parecia esquecido. Ao descrever invisibilidades seu olhar insinua um caminho às mil mensagens interditas. A contenção física não fora capaz de desarrumar o caos precursor, aliás, amarrar o corpo serviu para liberar a alma. O espanto inicial multiplica os acessos a essa nascente. Através das miragens, franjas e detalhes quase imperceptíveis descrevem-se num parágrafo maldito. O movimento especulativo se disfarça de realidade para insinuar segredos. Demonstra-se em trajetos pelos labirintos de si mesmo. Assim uma alma, exilada em um corpo refém, transcreve

Elegia Simultânea*

“Uma melodia que ouvimos de olhos fechados, pensando apenas nela, está muito perto de coincidir com esse tempo que é a própria fluidez de nossa vida interior...” Henri Bergson Todo mês um dia, o ano que se aproxima, Uma vida distancia-se, flor explode o coração no ensaio que dos olhos firmes, espanta solidão, todo mês a mesma via. Todo ano que chega ao fim, uma dor se aproxima, uma vida a discorrer, um poema de interlúdio, todas as notas, todas as músicas, fim do mundo. Todos os lugares no coração, um ser que viaja, viver no sol da Andaluzia, frio da Serra da Estrela, um dia entre o céu e o pensamento, ruas e destino. Todas as edificações e o Distrito da Guarda, o alto dos morros, Viver a luz de Lisboa, a ribeira do Porto, aos trilhos entre Paris e o Mediterrâneo. Todo o dia a luz a acordar, vê sonhos pintalgados a serpentear extensão do corpo. O espreguiçar da vida, uma roda de turbante, os passos, entre trens, a nuvem leva a nado o corpo que

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