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O Tempo Outro*

“Não há outro tempo que o agora, este ápice Do já será e do foi, daquele instante...” Jorge Luis Borges (O passado) Ao descobrir o que há por detrás daquela parede, descubro o outro lado, ao descobrir o outro lado, busco o que existe dentro de mim, o desconhecido. Vivemos trancafiados no mundo real, ideias desviam-se dos acontecimentos. O Real nos deixa mais vulneráveis às extremidades da mente, fazer o resumo das coisas, viver a realidade que inventaram, forjar outra. A tentativa de viajar no Outro é a busca de si no que há de diferente no tempo presente; ao passado, a tentativa de olhar com os olhos livres da realidade, que se afirmaram por estar indo ao futuro. A engrenagem, dizia Sartre. Digo, reatividade, se o tempo é descontínuo, Levinas estaria a me levar ao descontínuo do tempo que constitui a reserva das ideias sobre o Tempo. Pensar e viver o tempo, como o filósofo pergunta, por que é preciso ir para o bem, o mal, a evolução, as fraturas, as separações? Por es

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Há metáforas que são mais reais do que a gente que anda na rua. Há imagens nos recantos de livros que vivem mais nitidamente que muito homem e muita mulher" "Se considero com atenção a vida que os homens vivem, nada encontro nela que a diferencie da vida que vivem os animais. Uns e outros são lançados inconscientemente através das coisas e do mundo; uns e outros se entretêm com intervalos; uns e outros percorrem diariamente o mesmo percurso orgânico; uns e outros não pensam para além do que pensam, nem vivem para além do que vivem" "Transeuntes eternos por nós mesmos, não há paisagem senão o que somos. Nada possuímos, porque nem a nós possuímos. Nada temos porque nada somos. Que mãos estenderei para que universo ? O universo não é meu: sou eu" "Qualquer coisa, conforme se considera, é um assombro ou um estorvo, um tudo ou um nada, um caminho ou uma preocupação. Considerá-la cada vez de um modo diferente é renová-la, multiplicá-la por

O poema e a poesia*

Só por hoje Não destrua A lua Não tranca A tramela Não trava A trova Nem peneira Na esteira O poema A poesia. Só por hoje, Por favor Não meça o amor Como grande demais. "Também o relógio parado Acerta as horas Duas vezes ao dia!" *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Especialista em Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Canção*

No desequilíbrio dos mares, as proas giram sozinhas… Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas. Eu te esperei todos os séculos sem desespero e sem desgosto, e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto Quando as ondas te carregaram meu olhos, entre águas e areias, cegaram como os das estátuas, a tudo quanto existe alheias. Minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento, e perderam a cor que tinham e a lembrança do movimento. E o sorriso que eu te levava desprendeu-se e caiu de mim: e só talvez ele ainda viva dentro destas águas sem fim. *Cecília Meireles

Caminhando por aí*

Toda mudança é uma caminhada mutante e sem garantia de volta, pouco importando se os passos foram sutis ou escandalosos. Porque toda mudança é um desafio que no começo instiga e oferece novidades. Mas é quando decidimos prosseguir que quase sempre no meio do caminho tudo vai ficando confuso e assustadoramente incerto demais. É quando está em nossas mãos o poder de escolher optar pela persistência ou pela desistência. E quem desiste se conforta, se acomoda e se conforma com a escolha de julgar a si próprio um incapaz. Já quem persiste, se supera a cada passo até perceber que, de repente, as dúvidas vão passando e tudo vai se clareando até que nos percebemos e nos encontramos melhor do que outrora éramos, antes de partir. A verdade é que estamos sempre mudando e sempre é sem volta, uma vez que mesmo persistindo ou desistindo nunca voltamos a ser os mesmos, nunca voltamos a condição anterior. Enfim, toda mudança - seja aquela que nos torna mais fortes ou mais fracos,

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) de que modo a arte de todos os tempos aparece como provocação de experiências propositadamente incompletas, interrompidas de chofre para suscitar, graças a uma expectativa frustrada, nossa tendência natural ao complemento" "Ordem e desordem são conceitos relativos; somos ordenados em relação a uma desordem anterior e desordenados em relação a uma ordem posterior, exatamente como somos jovens em relação a nosso pai e velhos em relação a nosso filho, libertinos em relação a um sistema de regras morais e moralistas em relação a outro mais dúctil" "Das estruturas que se movem àquelas em que nós nos movemos, as poéticas contemporâneas nos propõem uma gama de formas que apelam à mobilidade das perspectivas, à multíplice variedade das interpretações. Mas vimos também que nenhuma obra de arte é realmente 'fechada', pois cada uma delas congloba, em sua definitude exterior, uma infinidade de 'leituras' possíveis" "(...) u

Uma metafísica dos refúgios*

“Deram-me um corpo, só um! Para suportar calado, tantas almas desunidas, que esbarram umas nas outras.”                              Murilo Mendes Um íntimo estranhamento chega á superfície na forma de dizer desencontrado. O gesto inseguro, a voz trêmula, a lágrima bailarina, parecem traduzir a indefinição em curso dentro de si. Em nuanças de antigas vivências, a linguagem faz voltar o que parecia esquecido.    Ao descrever invisibilidades seu olhar insinua um caminho às mil mensagens interditas. A contenção física não fora capaz de desarrumar o caos precursor, aliás, amarrar o corpo serviu para liberar a alma. O espanto inicial multiplica os acessos a essa nascente. Através das miragens, franjas e detalhes quase imperceptíveis, se descreve num parágrafo maldito. O movimento especulativo se disfarça de realidade para insinuar segredos. Demonstra-se em trajetos pelos labirintos de si mesmo. Assim uma alma exilada em um corpo refém, transcreve um sonho acordando. A

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